Conceito permite agilizar o giro do rebanho, produzir
mais arrobas por animal e elevar a rentabilidade do
produtor em pelo menos 30%.

À primeira vista, os três 7 separados por hífens causam um misto de estranheza e curiosidade. Lembram fórmulas matemáticas ou aquele famoso jato da Boeing, mas significam algo muito mais simples. O Boi 7-7-7 é um CONCEITO técnico, que carrega consigo uma META de potencial revolucionário para o atual modelo de produção da pecuária brasileira. Cada número indica o que se espera, em termos de ganho de peso, nas três fases de desenvolvimento do bovino: cria, recria e terminação. A ideia é fazer o animal desmamar com 7@ aos oito meses de idade, ganhar outras 7@ nos 10-12 meses seguintes e engordar mais 7@ em confinamento ou a pasto com ração, no período máximo de 120 dias.

Juntando os três setes, o pecuarista consegue abater novilhos de 22-24 meses com 21@, alcançando produtividade muito acima da média nacional e ainda incorporando ao seu sistema produtivo um item muito valorizado pelos frigoríficos: o acabamento adequado de carcaça, que pode render prêmio na hora do abate. Por sua simplicidade e força transformadora, o conceito do Boi 7-7-7 já “grudou” na mente dos produtores e ganhou adeptos Brasil afora. Perfeitamente alinhado à tendência de intensificação da pecuária, ele garante aumento na receita da fazenda devido à maior velocidade de giro do rebanho e à produção de mais arrobas por animal, estratégia fundamental em tempos de bezerro valorizado.

Por sua simplicidade e força transformadora, o conceito do boi 7-7-7 já “grudou” na mente dos produtores e ganhou adeptos Brasil afora.

Para que essa equação dê certo, é preciso reduzir a idade de abate”, diz Danilo Grandini, diretor global de marketing da Phibro para ruminantes. Segundo ele, o boi de 36 a 42 meses e 18@ tradicionalmente produzido no País já não paga a conta do pecuarista, que necessita diluir o ágio da reposição em mais quilos de carcaça. No Estado de São Paulo, por exemplo, esse ágio passou de R$ 29 por arroba de bezerro, em 2010, para R$ 69 em 2015.

“Muitas vezes, o produtor fica assustado com esses valores e prefere cortar custos a fazer investimentos em genética e programas nutricionais, quando a melhor alternativa é utilizar essas ferramentas para elevar a produtividade da fazenda”, explica Grandini. A alta de custos e a necessidade de competir por terras com outras culturas, portanto, estão obrigando a pecuária a “ligar suas turbinas” para ganhar velocidade, e o Boi 7-7-7 tem lhe servido de bom “plano de voo”, com rota mais do que segura. Só não decola quem não quer.

Como tudo surgiu

O conceito do Boi 7-7-7 surgiu de forma natural, como resultado de uma série de trabalhos conduzidos por pesquisadores da Apta (Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios), Polo Regional da Alta Mogiana, com sede em Colina, no norte do Estado de São Paulo. Há mais de 10 anos, eles vêm testando novas tecnologias, avaliando seu impacto sobre o desempenho animal da desmama ao abate, identificando interferências de uma fase sobre outra e fazendo análises de viabilidade econômica, para orientar o produtor em suas decisões. “As ferramentas tecnológicas já existiam, o que fizemos foi encaixá-las dentro de um sistema de produção e estabelecer metas para cada etapa produtiva”, relembra Flávio Dutra de Resende, diretor da Apta-Colina.
As metas são desafiadoras, reconhece o pesquisador, mas exequíveis. “Se fossem mais altas, as pessoas iriam considerá-las impossíveis de atingir; se fossem mais baixas, não estimulariam mudanças, nem possibilitariam incremento de produtividade”, justifica. O conceito do Boi 7-7-7 foi lançado em 2012, mas ganhou maior visibilidade em 2014 e 2015, por iniciativa da

Phibro, sendo o tema principal de palestras em diversos eventos promovidos pela empresa nas várias regiões do País. Segundo Flávio Resende, o objetivo desse conceito é fornecer “um norte” aos produtores interessados em intensificar sua produção. Não existe modelo único. Cada um utiliza os recursos de que dispõe e estratégias mais adequadas à sua realidade. “Muitos contam, orgulhosos, que já estão fazendo Bois 7-7-7 com menos de 24 meses ou até bois 8-8-8. Isso indica que ainda podemos avançar muito”, diz Resende. O fundamental, segundo ele, é perseguir as metas estabelecidas. Tem fazenda que já está marcando o bezerro com o número do seu mês de nascimento e o número da sua data provável de abate, pois isso estimula a equipe a manter o foco. “O Boi 7-7-7 é como um carrinho de mão, qualquer um pode manejá-lo, desde que se saiba para onde ir e se monitore a rota (etapas do sistema), para corrigir eventuais desvios de rumo”, salienta o pesquisador. “Para quem já está batendo essa meta, um próximo passo talvez seja produzir mais Bois 7-7-7 por hectare”, estimula Grandini.

“CRIANDO” O PRIMEIRO 7

A base de qualquer sistema de produção intensiva é o bezerro. “Quando ele é bom, fica mais fácil obter resultados satisfatórios na recria/engorda”, explica Rogério Coan, diretor técnico da Coan Consultoria.
Para desmamar machos com 210 kg aos oito meses de idade, conforme propõe o conceito do Boi 7-7-7, basta investir em boa genética, acertar o manejo reprodutivo e garantir nutrição adequada às matrizes. “Se elas tiverem acesso a pastos de qualidade e suplementação adequada, vão gerar bezerros com maior potencial para desenvolvimento muscular e ainda produzirão leite suficiente para desmamá-los pesados”, salienta.

A produção do Boi 7-7-7 começa, portanto, na barriga da vaca. Estudos já comprovaram que 80% do crescimento fetal ocorrem no terço final da prenhez, mas a formação das fibras musculares dá-se em fases anteriores, especialmente entre o segundo e o sétimo mês de gestação. “Restrições alimentares nesse período podem comprometer o desempenho futuro do bezerro para a produção de carne”, ressalta César Borges, gerente de desenvolvimento e soluções da Phibro. Diego Palluci, consultor da Rehagro, vai além: “A produção de bons bezerros começa pela fêmea de reposição, que, infelizmente, é a categoria menos valorizada do rebanho, por ser considerada improdutiva (apenas gera custos, não receita)”.

" As ferramentas tecnológicas já existiam, o que
fizemos foi encaixá-las dentro de um sistema "

Atenção às bezerras – Segundo Palluci, muitos pecuaristas colocam essas fêmeas em pastos ruins e somente se lembram delas um pouco antes da estação de monta. Aí descobrem que estão magras (270-280 kg aos 24 meses), mas já é tarde. Essas novilhas acabam emprenhando apenas no final da estação, o que prejudica toda sua vida reprodutiva e o desenvolvimento de seus bezerros. Conforme pesquisas, se essas fêmeas ganhassem mais 30 kg na recria, chegando à estação de monta com 300-310 kg de peso vivo (PV), a taxa de ciclicidade no lote subiria de 50% para 90%. “Com a valorização do bezerro, a relação custo x benefício da suplementação tornou-se positiva”, salienta o consultor.
Apresentando boa condição corporal, elas podem emprenhar cedo (outubro/novembro), parir em época de seca (julho/agosto), quando há menor incidência de doenças pós-natais, e apresentar pico de lactação no começo das águas, época de maior oferta forrageira, o que ajuda a desmamar bezerros mais pesados. Palluci recomenda suplementar as fêmeas de reposição, na seca posterior à desmama, com proteinado contendo virginiamicina (V-MAX®) na proporção de 0,2% do PV (ou 200 g por 100 kg de peso vivo); depois, fornecer-lhes sal mineral também enriquecido com esse aditivo durante as águas e voltar a fornecer o proteinado na seca seguinte, que antecede a cobertura. “Se o produtor errar na recria da bezerra, terá problemas sérios com as primíparas, que também devem receber proteinado com V-MAX® na seca posterior à estação de monta, na proporção de 0,1% do seu peso vivo”, diz o consultor.

Como essas matrizes jovens são muito sensíveis à perda de peso, Palluci também recomenda encaminhá-las à IATF (inseminação artificial por tempo fixo) 30 dias depois do parto, para que tenham maior chance de emprenhar cedo. Seleção genética para precocidade sexual também é importante, pois fêmeas tardias, mesmo quando chegam com peso adequado à estação de monta, podem não apresentar ciclo estral, enquanto fêmeas precoces conseguem emprenhar até mais leves, com menos de 300 kg. Veja a seguir o esquema ideal de fêmeas de reposição.

Suplementação das vacas

As multíparas (base maior do plantel) também não devem ser negligenciadas. Conforme lembra o pesquisador da Apta, Gustavo Siqueira Rezende, elas “merecem comer capim o ano inteiro, ou seja, não devem passar por restrições alimentares”. Sua recomendação é suplementá-las, na seca, com sal contendo ureia e, nas águas, com sal mineral contendo virginiamicina (V-MAX®) para manutenção do escore corporal em pelo menos 4, dentro de uma escala que vai de 1 a 9. Trabalho experimental conduzido por Diego Palluci durante dois anos (julho de 2012 a julho de 2014), em uma fazenda de Santa Vitoria, em Minas Gerais, mostrou que essa estratégia nutricional melhora bastante o desempenho reprodutivo das matrizes.

Esquema suplementação fêmeas reposição
DesmamaInseminação (I.A)PariçãoI.A
SecaÁguasSecaÁguasSeca
Proteinado 0,2% do PV
com v-max®
Sal mineral
com v-max®
Proteinado 0,2% do PV
com v-max®
Sal mineral
com v-max®
Proteinado 0,1% do PV
com v-max®
suplementação na cria
SecaÁguas
Sal mineral ureado
com v-max® ou
Proteinado 0,2% do PV
Com v-max®
Sal mineral
com v-max®

No período das águas, 446 vacas Nelore foram subdivididas em dois lotes. O primeiro recebeu apenas sal ureado na seca e sal mineral nas águas; o segundo foi tratado com os mesmos suplementos, porém contendo virginiamicina (V-MAX®). Constatou-se que as fêmeas alimentadas com o aditivo registraram taxa de prenhez de 87,4%, em contraste com 82,9% do grupo testemunha, uma diferença de 4,5 pontos percentuais, ou seja, quase 5

bezerros a mais para cada 100 vacas. Além disso, elas emprenharam mais cedo e desmamaram bezerros mais pesados: 202 kg para os machos (7@), ante 188 kg registrados no grupo testemunha, uma diferença de 14 kg. Nas fêmeas, os pesos foram de 182 kg e 171 kg, respectivamente.
As matrizes continuaram a ser suplementadas no ano seguinte para avaliação dos efeitos do uso prolongado da virginiamicina (V-MAX®) sobre sua vida reprodutiva. Cerca de 31% das vacas tratadas com virginiamicina (V-MAX®) apresentaram corpo lúteo (indicador de ovulação) no início da estação de monta, em contraste com 13% do grupo não tratado. Os bezerros foram desmamados ainda mais pesados: 225 kg, em comparação com
205 kg do ano anterior, 20 kg adicionais. “Com essa estratégia nutricional é perfeitamente possível fazer 7@ na cria. O maior desafio agora é aumentar a produção de bezerros por unidade de área”, diz Palluci. Segundo Rogério Coan, não é necessário usar creep feeding, mas, caso o produtor decida adotar essa ferramenta, deve continuar suplementando os animais até a fase de terminação. “Pense em um avião: para fazê-lo decolar e ganhar altitude, é fundamental manter o bico sempre para cima”, exemplifica.

“RECRIANDO” O SEGUNDO 7

Após a desmama, tem início a fase mais longa do ciclo pecuário: a recria. Em sistemas de exploração convencional, esse período se estende por dois longos anos, mas a proposta é reduzi-lo a 10-12 meses, agilizando o ciclo e liberando áreas para mais animais, o que eleva a produtividade. As 7@ da recria são o maior desafio do Boi 7-7-7. Segundo o pesquisador da Apta, Gustavo Rezende Siqueira, não é fácil fazer os animais ganharem, a pasto, uma média de 580 g/cab/dia nesta fase. O principal gargalo são os 150 dias de seca posteriores à desmama, quando os animais, além de enfrentarem o estresse causado pela separação da mãe, precisam se adaptar a uma dieta exclusivamente forrageira (pasto seco) e dela extrair nutrientes para acelerar seu desenvolvimento.
Para facilitar o manejo, o pesquisador propõe subdividir a recria em três estações distintas (inverno, verão e outono), estabelecendo estratégias nutricionais para cada uma delas separadamente. Nas condições do Centro-Oeste, por exemplo, é possível fazer os bezerros ganharem de 1,7@ a 2@ na primeira seca pós-desmama, fornecendo-lhes um suplemento proteico-energético de 0,3% PV (ou 300 g por 100 kg de peso vivo), que contenha de 30% a 35% de proteína bruta (PB), metade desse percentual proveniente de ureia, contendo V-MAX®. “Esse reforço na dieta lhes permite enfrentar, em melhores condições, a primeira seca que passam sozinhos, longe da mãe, e, dessa forma, continuar ganhando peso”, diz Siqueira.

Em uma das pesquisas conduzidas nas instalações da Apta Colina, animais tratados com proteico-energético na seca ganharam, em média, 350 g/cab/dia, em contraste com 50 g registradas no lote que consumiu apenas sal mineral comum. Ao final de cinco meses de estiagem, eles haviam engordado 53 kg a mais (1,7@), um excelente resultado. “Para que essa estratégia nutricional dê certo é preciso ter bom volume de pasto, pois os garrotes comem cerca de 5 kg de matéria seca por dia. Sem pasto, o sistema trava. Digamos que o suplemento é apenas o ‘tempero’ do prato principal (capim) e tem por função estimular a ingestão dessa forragem desidratada”, acrescenta o diretor da Apta, Flávio Resende.

Para facilitar o manejo, o pesquisador propõe subdividir a recria em três estações distintas (inverno, verão e outono), estabelecendo estratégias nutricionais para cada uma delas separadamente.

acelerando o ganho

Com o retorno das chuvas no verão, é preciso aproveitar as condições climáticas favoráveis para acelerar o ganho de peso. Sob condições normais (sem adubação), os pastos do Brasil Central apresentam teor proteico inferior à demanda dos garrotes, mesmo nessa época do ano. Por isso, os pesquisadores da Apta dizem ser fundamental fornecer o que chamam de “proteinado das águas 0,1%” (100 gramas para 100 kg de peso vivo). Trata-se de um produto com 20% a 25% de PB (teor menor do que o do suplemento de seca), pois a intenção é apenas complementar a proteína do pasto verde. Além de ureia, ele também contém um pouco de farelo de soja ou similar, produto que atrai os animais até o cocho e ainda veicula a virginiamicina.

suplementação na recria
SecaÁguasTransição
Proteico-Energético
0,3% do PV
Com v-max®
Proteinado águas
0,1% do PV
Com v-max®
Proteico-Energético
0,3% do PV
Com v-max®

“Com um proteinado de águas e boa oferta de pasto, o ganho de peso passa rapidamente de 350 g/cab/dia (média da seca) para 780 a 800 g/cab/dia (média do verão), o que possibilita aos novilhos ganhar 3@ em 120 dias”, explica Siqueira. No outono (abril/junho), quando os pastos começam a perder qualidade, volta-se a fornecer proteico-energético, na proporção de 3 g por quilo de peso vivo, porém usando um pouco mais de proteína do que no suplemento de águas (25% a 30%). “O objetivo é evitar que o ganho de peso caia drasticamente, como acontece na maioria das fazendas brasileiras

nesse período do ano. Procuramos mantê-lo na faixa das 650 a 680 g/cab/dia, de forma a preparar os animais para o confinamento ou terminação intensiva a pasto. Eles devem entrar nas instalações com uma média de 420 kg aos 20 meses”, diz o pesquisador. Esse esquema não é regra, apenas serve de referência para os produtores, pois cada um tem realidades distintas.
Neto Sartor, da Brasil Beef Consultoria, por exemplo, aplica o conceito do Boi 7-7-7 em fazendas de recria/engorda de Rondônia, procurando sanar deficiências vindas da cria. “É difícil comprar bezerros comerciais no mercado com peso superior a 180 kg ou 6@. O pecuarista que depende de matéria-prima produzida por terceiros precisa caprichar nas etapas de produção seguintes para compensar essa defasagem de peso (1@ a menos)”, diz ele. Planejamento é fundamental, segundo o consultor. “Quando os animais passam pela balança, já definimos metas para ganhos diários, estratégias nutricionais que permitam atingi-las e datas prováveis de abate”. Na maioria dos casos, essas metas consistem em ganhar 1@ em 125 dias de seca, 6@ em oito meses de águas (média de 750 g/cab/dia) e 8@ em 120 dias de confinamento.
“É perfeitamente possível produzir bois de 21@ aos 24 meses, com ótima relação custo/benefício”, garante Sartor, que recomenda a seus clientes suplementar os animais na proporção de 0,1% a 0,3% do peso vivo (100 a 300 gramas para 100 kg de peso vivo), dependendo da estação do ano, com produtos contendo virginiamicina (V-MAX®). Nas fazendas de Rondônia, normalmente tem-se registrado, dentro desse sistema, um custo médio deR$ 85 por arroba ganha durante os 16 meses de recria/engorda. Com o boi gordo em Rondônia cotado a R$ 130 em outubro de 2015, obtinha-se receita de R$ 45/@ ou R$ 675 por animal, considerando-se as 15@ engordadas no período. Após deduzir-se desse valor os R$ 250 de ágio do bezerro, chegava à receita de R$ 425 por animal. “Trata-se de um resultado bem acima da média brasileira”, salienta.

Recria turbinada de norte a sul

Leandro Diaz Rodrigues, gerente da Fazenda Alegre e Capim Verde, em Camapuã, MS, também é fã de carteirinha do Boi 7-7-7. A propriedade, pertencente aos irmãos Jefferson e Stephani Pinesso, se dedica à recria/engorda, adquirindo animais Nelore e cruzados Angus um pouco mais velhos (10-12 meses), com peso entre 7 e 8@. Quando eles chegam à propriedade em agosto/setembro, vão para 1.100 ha de pastagens rotacionadas e adubadas, com direito à suplementação contínua. Em abril/maio (9-10 meses depois) já estão com 14@, prontos para entrar no confinamento, que tem capacidade estática para 6.000 cabeças. Na seca, recebem um proteinado 0,6% PV (600 gramas para 100 kg de peso vivo) contendo virginiamicina (V-MAX®), e, nas águas, o mesmo produto em dosagem menor (0,3% do PV- 300 gramas para 100 kg de peso vivo), pois o capim de alta qualidade já garante bom ganho de peso.
A fazenda aloja 9.000 cabeças, produzindo 133@/ha/ano. “Damos grande atenção às pastagens. De 2014 para cá, já recuperamos 700 ha, com corretivos e MAP”, explica Diaz. São 25 módulos de pastejo com 40 ha cada, divididos em quatro piquetes de 10 ha, manejados com base na altura do capim. Nas águas, a lotação chega a 7 UA/ha. Para elevar a produção de massa, são feitas duas aplicações anuais de 100 kg de ureia/ha. Já no confinamento, os animais recebem uma dieta de alto concentrado, contendo virginiamicina (V-MAX®) associada à monensina, e engordam 8@, sendo abatidos com 22@ aos 22-24 meses. “Neste ano suspendemos a monensina nos últimos dias de terminação e conseguimos elevar em 5% o consumo. Vamos continuar adotando essa estratégia”, diz o gerente.
Mais ao norte, Zé Maria Goldschmidt Filho, da Consultoria Planagro, orienta um projeto de pecuária intensiva em fazendas da Floresteca Brasil, no Pará, que faz integração pecuária-floresta e também vem apostando pesado no Boi 7-7-7. Segundo ele, a empresa já tem a vantagem de produzir seus próprios bezerros, então, começa com o pé direito. “Os bezerros Nelore são desmamados com 220-227 kg (7,3 a 7,5@) aos oito meses de idade”, informa o consultor, ressaltando que o simples fato de se fornecer um proteinado com V-MAX® às vacas multíparas e primíparas, 30 dias antes do parto, já elevou o índice de prenhez por IATF de 48-52% para 60%. Para não perder o efeito do creep feeding, a empresa continua a suplementar os animais até o abate, fornecendo-lhes proteinado na seca e sal energético nas águas, sempre com virginiamicina (V-MAX®). Os animais precoces vão direto da desmama para a engorda, eliminando-se a recria.
Do outro lado do País, Eduardo Garcia e sua neta, Isabela dos Santos Garcia, conduzem um projeto de recria/engorda, na Fazenda Santa Bárbara, perto de Maringá, também dentro da filosofia do Boi 7-7-7. “Procuramos comprar os animais já com 7@, embora nem sempre isso seja possível. Quando eles chegam à fazenda, são colocados em cerca de 700 ha de pastagens rotacionadas. A área é toda dividida em piquetes de 5 ha e sustenta altas lotações nas águas (de 4.000 a 5.000 garrotes)”, informa a jovem agrônoma. Para que os animais ganhem 7@ na recria, eles recebem, conforme sua idade e peso, de 1 a 2 kg/cab/dia de uma mistura contendo farelado, bagaço de

laranja e polpa de mandioca, além de ureia, minerais e V-MAX®. Ganham, em média, 500 g/cab/dia (os mais novos) e de 700 a 800 g/cab/dia (os acima de 300 kg), sendo abatidos com 19 a 21@ aos 18-24 meses. “Estamos seguindo firme na rota do Boi 7-7-7”, diz Isabela.

“TERMINANDO” O ÚLTIMO 7

Após acumular 7@ na recria, é fundamental que os animais sejam confinados ou terminados a pasto com ração, para ganhar tempo e conferir acabamento à carcaça.
“O produtor tem 10-12 meses para fazer as arrobas do meio (recria) e apenas quatro para produzir as sete finais, o que exige aporte de energia e genética adequada”, lembra o pesquisador Flávio Resende. Como a intenção é produzir carcaças mais pesadas, o gerente de desenvolvimento e inovação da Phibro, César Borges, recomenda trabalhar com animais de maior frame (estrutura corporal). “Animais com caixa média ou grande costumam apresentar maturidade corporal (28% de gordura) aos 550 a 600 kg, enquanto os de frame pequeno atingem esse ponto com 510 kg, passando, na sequência, a depositar gordura pélvica e renal, o que é antieconômico para o produtor”, explica Borges.
Caso tenha boa oferta de pasto e lhe falte infraestrutura, o produtor pode optar pela terminação intensiva a pasto ou simplesmente TIP, que está crescendo no Brasil, devido ao menor custo e baixo investimento em instalações. “Na Apta fornecemos, em cochos colocados no pasto, cerca de 8 a 10 kg/cab/dia de ração (2% do peso vivo). Trata-se de um nível de suplementação semelhante ao do confinamento convencional; a diferença é que os animais ficam em piquetes maiores e têm o capim como fonte de volumoso”, explica o pesquisador Gustavo Siqueira. Conforme mostraram pesquisas da Apta, nesse sistema, os animais apresentam menor ganho de peso vivo diário do que na engorda intensiva convencional (1,2 a 1,3, ante 1,5 a 1,6 kg/cab/dia), porém o rendimento do ganho, ou seja, o percentual desse peso efetivamente transformado em carcaça, é maior (75% a 82%, ante 65% a 68%), o que diminui a diferença entre os dois sistemas.

suplementação na terminação intensiva a pasto
Seca
Ração 2% do PV com v-max® a pasto

Eficiência biológica

“Na terminação, é preciso trabalhar com dietas mais calóricas, que garantam deposição de tecido adiposo para acabamento da carcaça, tomando-se o cuidado de adaptar os animais para evitar acidose, papel desempenhado com eficácia pela molécula virginiamicina”, salienta César Borges. No confinamento, são muitas as opções, mas cresce no País o uso de rações com altas quantidades de concentrado. Victor Campanelli, por exemplo, diretor da Agropastoril Paschoal Campanelli, é um dos pioneiros no uso de silagem de grão de milho úmido em larga escala no País, que possibilita formulações com alta densidade energética. Deverá engordar 50.000 animais neste ano,50% deles recriados pela própria empresa em pastagens rotacionadas e adubadas, com suplementação tanto na seca quanto nas águas. “Estes são os bois que dão mais lucro”, salienta Victor.

O produtor tem 10-12 meses para fazer as arrobas do meio (recria) e apenas quatro para produzir as sete finais, o que exige aporte de energia e genética adequada.

Segundo ele, produzir 7@ em confinamento é uma meta bastante factível. Se os animais ganharem 1,2 kg de carcaça/cab/dia, em três meses já estarão prontos para o abate. O maior desafio é manter a operação economicamente viável. “Em função da valorização dos bezerros e dos insumos, a margem de lucro está cada vez mais estreita e somos forçados a colocar animais mais jovens no confinamento, o que eleva custos”, explica o produtor, que ainda não conseguiu bater a meta das 21@, devido à falta de uniformidade dos animais adquiridos, mas está bem próximo dela. “Nosso índice geral é de 19,5@. Nos animais de produção própria, estamos conseguindo 20,5@ aos 22-24 meses. Nos adquiridos de terceiros é mais difícil, mas estamos avaliando deixá-los mais 15 dias no confinamento. A carcaça é como um cabide: quanto mais carne pendurarmos nela, melhor, pois a reposição está muito cara”, frisa o empresário.
Portanto, cada produtor a seu modo está buscando atingir as metas do Boi 7-7-7, conceito que, segundo Antonio Ignácio dos Santos, da Projeta Consultoria, deu um NOME ao processo de intensificação da pecuária já em curso. Segundo ele, essa proposta é viável em boa parte do território brasileiro, desde que se respeite as peculiaridades de cada região. “Ela exige, entretanto, maior cuidado com o bezerro e maior investimento na recria, para que os animais cheguem mais pesados na terminação, reduzindo os custos de engorda”, alerta o consultor. “Nesse processo é fundamental respeitar o fluxo de caixa, soberano em qualquer negócio, e investir em pessoas, que são o verdadeiro agente transformador da pecuária”, conclui.

Segundo Crespo, o conceito do boi 7-7-7 já está trazendo bons resultados em termos de rendimento de carcaça e padronização de cortes. “Os clientes agradecem”.

o boi 7-7-7 na visão do frigorífico

O conceito do Boi 7-7-7 também vai ao encontro dos anseios dos frigoríficos. “Animais jovens, pesados e com bom acabamento de gordura podem atender qualquer mercado, desde aqueles que impõem limites à idade, em função de protocolos de prevenção à doença da vaca louca, como Israel, Chile, Irã e China, até os que valorizam qualidade, como a União Europeia”, explica Fabiano Tito Rosa, gerente de compra de gado da Minerva Foods. Segundo ele, esse tipo de boi fornece carne mais macia, com pH adequado, e, por serem pesados (21@), reduzem os custos fixos da indústria, que transportam mais quilos de carne por carreta e obtêm melhor rendimento na desossa. “O bom acabamento de gordura também garante cortes do tipo grill, que são valorizados pelo consumidor, além de proteger a carcaça durante o resfriamento”, diz o executivo.
Para José Pedro Crespo, profissional com grande experiência no segmento, os efeitos benéficos desse conceito podem ser conferidos já no pré-abate. “Animais suplementados ao longo da vida são mais mansos e melhor monitorados pelos peões, tanto do ponto de vista sanitário quanto de desempenho. Em função disso, apresentam menor nível de estresse, inclusive no transporte, e, consequentemente, baixo índice de contusões, garantindo à indústria carcaças de melhor qualidade”, explica Crespo, salientando, como Tito Rosa, que o Boi 7-7-7 dilui o valor do frete, devido ao maior número de arrobas transportadas por caminhão, e reduz os custos de produção, ao aumentar o número de quilos de carne produzidos por funcionário. Crespo lembra ainda que existe uma grande diferença entre boi pesado e boi bem-acabado. “Um animal pode pesar 20@ e não ter cobertura de gordura satisfatória, que é obtida somente com nutrição adequada”, exemplifica.
Segundo Crespo, o conceito do Boi 7-7-7 já está trazendo bons resultados em termos de rendimento de carcaça e padronização de cortes. “Os clientes agradecem”, diz ele. Eduardo Pedroso, diretor executivo de originação da JBS, é da mesma opinião. “Trata-se de um modelo que incorpora tecnologias voltadas à produção de carcaças de qualidade. Um animal bem tratado pesa mais, rende mais, converte melhor alimentos em carne. Para o produtor, o conceito traz ganhos excepcionais, porque ele passa a trabalhar com base em metas e isso muda a realidade do seu negócio”, argumenta Pedroso, lembrando que a verdadeira integração de cadeia é trabalhar em prol de um produto de qualidade, que beneficie a todos: pecuarista, indústria, varejo e consumidor final.